quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A verdade sobre as lâmpadas economizadoras

Não posso deixar de postar aqui um assunto que mexe na carteira de todos nós, a iluminação eléctrica das nossas casas.

Desde há muito que se ouve falar nas lâmpadas economizadoras (de baixo consumo) que nos fazem poupar até 85%. Bom, isto é como tudo, muito bonito na teoria, mas agora vamos à prática...

De facto, se nas nossas casas substituirmos todas as lâmpadas incandescentes por lâmpadas economizadoras e estas durarem o tempo que é indicado pelo fabricante a poupança atinge valores próximos da percentagem que disse em cima. E se não for assim?

Para já, vamos lá explicar o que são estas "milagrosas" lâmpadas.
Estas lâmpadas não são mais que as lâmpadas fluorescentes tubulares que temos nos tectos das nossas cozinhas, casas de banho ou garagens, ou nos escritórios, mas em ponto pequeno e adaptadas aos formatos standart de casquilhos usados para as lâmpadas incandescentes.
O princípio de funcionamento é o mesmo, ou seja, a corrente eléctrica percorre o interior do tubo pelo gás condutor que lá se encontra, e as partículas fluorescentes emanam a luz que lhes é característica.
Estas lâmpadas (as tubulares) sempre tiveram um arranque mais complicado que as incandescentes, necessitando de um arrancador e um balastro para fazer com que o tubo se torne "condutor" de electricidade, e só aí elas acendem. Este processo é feito recorrendo ao arrancador que não é mais que um interruptor automático que se desliga assim que a lâmpada acende.Depois desta acesa é o balastro que regula a intensidade de corrente que percorre a lâmpada. Se houver interesse eu depois coloco aqui um esquema com o seu princípio de funcionamento.
No caso das economizadoras, o arranque é feito electronicamente, nomeadamente com um pequeno transformador, um Circuito Integrado (C.I.) Regulador de Tensão e alguns componentes passivos de filtragem e protecção do C.I. É nomeadamente por estes componentes e pela arquitectura da lâmpada que o seu preço é bastante mais elevado que uma lâmpada incandescente normal.

E assim, depois de estas lâmpadas aparecerem, foi exactamente essa relação preço/consumo, ou rendimento, se lhe quisermos chamar assim, que as tornou atractivas para consumo doméstico.
E para provar isto, passo a apresentar uma tabela básica com alguns dados que nos são fornecidos pelos fabricantes e valores finais:

--------------------------Incandescente-------------------Fluorescente

Potência----------------------100W-----------------------------18W

Fluxo luminoso----------------1360lm--------------------------1200lm

Tempo de vida-----------------1000h--------------------------10 000h

Horas consumo diário-----------4h-------------------------------4h

Preço------------------------0,72 euros---------------------6,48 euros

N.º lâmpadas compradas----------8--------------------------------1

Consumo em 5 anos ------------730 Kwh------------------------131 Kwh

Custo em 5 anos--------------70,44 euros-------------------12,68 euros

Custo c/ preço das lâmpadas---76,20 euros------------------19,16 euros


Portanto, ao fim de 5 anos se usar uma lâmpada economizadora em vez de uma incandescente poupo mais de 55€!


Mas atenção, isto é a TEORIA. Vamos analisar a prática?


Na pratica, a realidade é bem diferente da teoria, e para pior em relação às lâmpadas economizadoras.
Passo a explicar:

- É indicado pelos fabricantes que por exemplo 11W numa economizadora equivalem a 60W numa incandescente.
Na verdade, não é assim. Além do fluxo luminoso ser menor nas de economizadoras, a gama de frequências emitidas por estas é menor, logo ficamos com a sensação de perda de cor (crominância) ou de uma luz "azulada" em algumas delas (temperatura de côr), dando a sensação real de termos menos luz. E é verdade, portanto.
- Depois, o problema do aquecimento. Enquanto nas incandescentes é o filamento que erradia a luz (e este tem uma luz regular se a corrente electrica atravessada neste for regular também) fica no máximo rendimento em milésimas de segundo, já as economizadoras demoram em média 15 segundos a chegar ao seu máximo rendimento. Logo, em utilizações curtas não compensa.
- A durabilidade da lâmpada é grandemente afectada pela qualidade quer do tubo quer dos componentes electrónicos que a compôem. Ora, em 90% dos casos em que estas lâmpadas deixam de funcionar tem a ver com avarias no seu interior, e se não fosse isso o tubo duraria ainda muito mais horas.
- Tal como em qualquer equipamento electrónico, é aconselhável que estes funcionem regularmente, pois as suas características eléctricas (nomeadamente nos C.I.s e os condensadores) alteram-se bastante com o passar do tempo sem serem percorridos por corrente eléctrica.
- E por fim, a estabilidade da corrente eléctrica que a alimenta. Se a vossa casa estiver sujeita a picos ou quedas frequentes de tensão, então certamente estas lâmpadas não durarão mais que umas dúzias de horas. As incandescentes funcionam em qualquer tensão abaixo dos 230V sem que isso afecte a sua duração, alías, se for abaixo dos 220V só aumentam a sua duração (mas diminuem drasticamente o seu rendimento luminoso, por isso esqueçam).



Passo a apresentar de novo o quadro que mostrei em cima, mas reduzindo apenas a vida útil das lâmpadas economizadoras para 500 horas, em vez das 10 000h que tinha no outro.


--------------------------Incandescente-------------------Fluorescente

Potência----------------------100W-----------------------------18W

Fluxo luminoso----------------1360lm--------------------------1200lm

Tempo de vida-----------------1000h--------------------------500h

Horas consumo diário-----------4h-------------------------------4h

Preço------------------------0,72 euros---------------------6,48 euros

N.º lâmpadas compradas----------8--------------------------------16

Consumo em 5 anos ------------730 Kwh------------------------131 Kwh

Custo em 5 anos--------------70,44 euros-------------------12,68 euros

Custo c/ preço das lâmpadas---76,20 euros------------------116.36 euros


Ora, agora ficámos com um prejuízo de 40€!
Então, será que compensa ter lâmpadas economizadoras nas nossas casa?


Compensa, claro, mas apenas se:

- O local não estiver sujeito a picos ou quedas de tensão frequentes.
- Se não for em locais que tenham muita utilização de curta duração (corredores, dispensas)
- Se funcionarem regularmente.


Se na vossa casa se verifica alguma destas situações não utilizem lâmpadas economizadoras (ou outras de balastro electrónico).


Se desejarem mais algum conselho ou dica peçam, à vontade.;)


Fica aqui o link para a legislação portuguesa sobre este tipo de lâmpadas:
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/pt/oj/2002/l_242/l_24220020910pt00440049.pdf

Cláudio Cortez