À uns tempos saiu esta notícia:
"Hipers ao domingo à tarde vão gerar 2500 milhões
A simples autorização de abertura das superfícies comerciais de maior dimensão (hipermercados) ao domingo à tarde e aos feriados, durante os dez meses do ano em que tal está proibido - todos menos Novembro e Dezembro -, criaria para o país uma riqueza adicional de 2500 milhões de euros. A conclusão é de um estudo da consultora Roland Berger, encomendado pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que ontem foi divulgado em Lisboa. Os números adiantados referem-se ao acumulado dos próximos dez anos.
Segundo António Bernardo, da Roland Berger, a abertura adicional permitiria "a criação de mais de oito mil empregos, até 2017". Há igualmente um "impacto fiscal muito forte, que pode ir até 1,5 mil milhões de euros".
O documento afirma que a "limitação de abertura de lojas com mais de 2000 metros quadrados [aquelas às quais se aplica a referida proibição] está a condicionar o de-senvolvimento da economia, do emprego, a criar constrangimentos aos consumidores e não teve sucesso em proteger o comércio tradicional por não ser um dos factores-chave do declínio deste tipo de retalho".
O estudo refere que, para além do impacto económico global, o emprego gerado será na sua maioria "estável" (71%), atingindo em especial "jovens" (74%) e "mulheres" (69%). A estrutura dos ganhos divide-se em estimativas de investimento (350 milhões de euros), criação de emprego directo (500 milhões) e indirecto (150 milhões), mais as receitas fiscais previstas.
Os novos empregos, segundo a Roland Berger poderão representar remunerações de 630 a 670 milhões de euros (no período de um decénio em apreço). A empresa estima ainda um efeito multiplicador do investimento da ordem dos 80 a 120 milhões.
A consultora foi igualmente à procura de saber o que pensam os consumidores sobre a referida abertura aos domingos à tarde e aos feriados. Cerca de dois terços (66%) dos portugueses concorda, sendo que é nos mais jovens que a ideia passa melhor. Por estado civil, quem é solteiro (77%) ou divorciado (68,5%) vê com melhores olhos o alargamento do horário de abertura. Os portugueses dividem-se praticamente a meio quando questionados sobre se preferem fazer compras de 2ª-feira a 6ª-feira ou ao fim-de-semana.
A Roland Berger refere que, em termos comparativos com os países da UE-15 , Portugal situa- -se mais ou menos a meio no que diz respeito a liberalização dos horários de funcionamento. O estudo foi elaborado ao longo de dois meses e meio."
Quem vê este título até se assusta. E por várias razões.
Primeiro, vão gerar 2500 milhões onde? Como? Para quem?
Depois, isso quer dizer que as pessoas vão largar mais 2500 ME do que largam agora nos hipermercados? Claro que não!
O que vai acontecer é que o consumo vai ser distribuído pelos sete dias da semana em vez de ser por seis dias e meio, cabendo a fatia dessa divisão aos domingos à tarde dos tais 2500 ME, contanto também que muita gente vai fazer compras nesse período, tal como fazem por exemplo ao sábado à tarde.
Estes tipos da APED querem a força levar a deles avante. Eles representam os patrões e donos dos hipers, que são sequiosos por lucros, que já não são poucos. Quando foi feita uma recolha de assinaturas nas caixas dos hipermercados claro que a maioria dos clientes disseram "sim, claro que quero que estejam abertos domingo a tarde!". Claro. Dá jeito. Até a mim me dava, se tivesse que por exemplo que ir comprar leite para a minha filha a meio da noite obviamente preferia fazer num hiper onde é muito mais barato que numa farmácia. Agora, quando perguntam aos funcionários dos hipers se querem trabalhar ao domingo à tarde estes respondem claramente que não. E a esses ninguém os ouviu!
E estes 2500 ME são riquesa adicional que o país vai ganhar? Não, são as receitas que os hipers vão facturar, não esquecer disso.
Sabem o que vai acontecer se a medida for para a frente? Vamos ter cada vez mais gente a encher os centros comerciais e cada vez mais gastadores (por exemplo aos domingos à tarde numa primavera ensolarada em vez de estar a passear e fazer exercício por exemplo), e cada vez mais pobres (na carteira e no espírito). Em vez de darem dinheiro a ganhar a pequenas mercearias e cafés do interior, lojas de comércio tradicional e típico, vão continuar a comprar queijo da Serra e alheiras de mirandela nas prateleiras dos hipers em vez de estarem a visitar os locais de origem desses produtos.
E não vou alongar-me mais: sabem que estivem durante quase 5 anos por dentro deste tema por trabalhar para um grupo de hipers (Carrefour) e sei como estas coisas funcionam. E sabem qual a minha opinião? Supers, Hipers e Hard Disconts (Lidl's, Minipreço's e companhia) deviam encerrar todo o ano ao Domingo, o dia todo!
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