Na madrugada do passado dia 18 de Fevereiro uma valente carga de água abateu-se sobre o litoral de Portugal entre os distritos de Setubal e Lisboa.
Diziam alguns meios de cominicação social:
"As cheias na Grande Lisboa causaram esta segunda-feira um morto, cinco feridos, um desaparecido, 179 desalojados e 122 deslocados, informa o portal da Autoridade Nacional de Protecção Civil.
A única vítima mortal registada até ao momento é uma mulher, ocupante de uma viatura que caiu na Ribeira de Belas, Sintra. A outra ocupante do veículo, também mulher, continua desaparecida, estado agentes da PSP, auxiliados por cães, e bombeiros destacados nas buscas. As cheias mobilizaram no Distrito de Lisboa 296 bombeiros, 102 viaturas e três botes.
Ainda de acordo com a Autoridade Nacional de Protecção Civil, as inundações obrigaram, em Setúbal, a uma evacuação e ao encerramento de todas as escolas do Concelho, por precaução. No mesmo Distrito mas em Sines, o abastecimento de água foi cortado devido ao deslizamento de terras. Foram mobilizados para o Distrito de Setúbal 520 bombeiros e 180 veículos.
A circulação de comboios esteve parcialmente cortada, na Linha do Norte, na Póvoa de Santa Iria, entre as 08:00 e as 10h30, e no Sul, nas Praias do Sado, até meio da tarde, devido "ao excesso de água que se verificou e inundou parte das linhas e estações" sem que nenhuma estrutura ficasse afectada, segundo a Refer - Rede Ferroviária Nacional.
O Metropolitano de Lisboa também foi afectado, tendo encerrado temporariamente a estação do Jardim Zoológico devido à entrada de água pelos acessos e escadarias da gare.
Inundações em subestações e postos de transformação de electricidade levaram ao corte temporário de luz em Cascais, Lisboa e Loures. De acordo com a EDP Distribuição, só nas zonas Norte de Cascais e Avenidas Novas, em Lisboa, cerca de 20 mil clientes ficaram privados de energia até às 12h00 devido às fortes chuvadas."
Depois vieram as inevitáveis questões políticas:
" O ministro do Ambiente responsabiliza os municípios pelas inundações dsegunda-feira na região de Lisboa. Na resposta, o presidente da Câmara de Loures diz que Nunes Correia "desconhece as competências das autarquias".
Nunes Correia rejeita que o problema se coloque ao nível do ordenamento do território, apontando o dedo a falhas ao nível da limpeza dos algerozes, a cargo das autarquias. Na resposta, o presidente da Câmara Municipal de Loures, uma das mais atingidas pelas cheias desta segunda-feira, diz que Nunes Correia nunca foi autarca e desconhece as competências das autarquias.
Carlos Teixeira acrescenta ainda que é ao Ministério do Ambiente, através do Instituto da Água, que compete a limpeza dos cursos de água.
Setúbal foi outra das zonas mais afectadas pelo mau tempo e, à Renascença, a presidente da Câmara contesta as afirmações do responsável pela pasta do Ambiente. Maria das Dores Meira diz estar de consciência tranquila, uma vez que a autarquia procedeu a uma “limpeza muito aprofundada” de valas e coletores para tentar evitar inundações.
A presidente da Câmara de Setúbal denuncia, também, um problema grave a montante da cidade, com as ribeiras do Livramento e da Figueira, uma questão que o município tenta resolver há vários anos. São precisas obras no valor de 10 milhões de euros e a tutela está alertada, só que o ministro do Ambiente continua a não receber os autarcas, acusa Maria das Dores Meira.
Sobre esta situação a Renascença ouviu o engenheiro de estruturas Matos e Silva, que lança uma sugestão que passa por uma coordenação estreita entre os serviços meteorológicos e as câmaras municipais."
Claro, só podia ser. Numa altura destas toda a gente culpa toda a gente. Toda a gente protesta, grita, escreve uns artigos, culpa este e o outro, ou assume as culpas. Mas e na prática? Que é feito?
A grande maioria dos envolvidos nas cheias conhece em parte as causas e as razões do sucedido, mas a esmagadora maioria dos cidadãos que apenas sabem ler e ver o que lhes é dado pelas notícias desconhece por completo a realidade. Tem uma vaga ideia, pronto. Quanto muito uma opinião, que poderá ser a certa.
Do ser humano actual já se conhece o péssimo relacionamento com tudo o que é anormal ao seu quotidiano e à sua rotina. Cheias, ciclones, terramotos ou fogos são situações em que ninguém é capaz de agir em conformidade. E porquê? É simples: nós, apesar de humanos, continuamos a ser animais, e todos os animais têm instinto de sobrevivência. Uns mais outros menos, é certo, mas todos têm. Nós humanos estamos "vacinados" contra esse instinto e temos sido habituados a uma vida urbana que nem quer ouvir falar das acções da Natureza. Quando algo de anormal acontece, o nosso organismo fica baralhado entre o que deve fazer entre reagir ao seu instinto ou ao que é racional e humano. Obviamente que vai pela segunda da-se mal. Deu-se mal a condutora da viatura que foi parar ao rio e deu-se mal o velhote que tentou salver o seu bem material ( o seu carro) da cheia. Ser racional nestas altura não ajuda nada, só prejudica.
Estas palavras podem parecer frias, cruas ou pouco perceptívies para a maioria, mas isso nem me espanta nem me importa muito. Hoje todos temos consciência que temos consequências boas e más dos actos e decisões que tomamos. Quer queiramos ter uma mentalidade urbana e cosmopolita ou uma mentalidade de sobrevivência e rústica temos pontos a favor e contra. Cabe a cada um posicionar-se no melhor local possível.
E o que isto tem a ver com as cheias? Simples. Pareciam baratas tontas. Houve de tudo. Culpados e castigados a ajudarem-se mutuamente. Os culpados são os nossos dirigentes políticos, quem durante décadas e décadas construíu e mandou construir as edificações que hoje temos, nomeadamente desde a segunda metade do sec XX, e os que por ignorância ou por falta de outras hipóteses foram viver e trabalhar para os pontos críticos, leitos de cheia e zonas baixas facilmente inundáveis. Castigados são os bombeiros e todos os que sem culpa nenhuma foram apanhados nas cheias e suaram para minimizar as consequências.
O ordenamento do território é péssimo hoje, eu sempre odiei cidades e o urbanismo baseado em prédios, urbanizações e caixas de betão. Percebem agora porquê? Porque não há planeamento, não há um Crescimento Sustentável.
Ah, e tal, repudiam os rudes das aldeias e as habitações antigas sem conforto, mas digam lá se viram casas antigas inundadas pelas cheias, viram? Claro que não, é que até à 50 anos para trás havia muito tempo para pensar e agir, nomeadamente quando se construia uma casa. Pensava-se em tudo o que podia acontecer, e havia tempo para ver e saber se aquele local era seguro, demoravam-se muitos anos a planear e fazer uma casa mesmo pequena que fosse, assim como as estradas e ruas. E hoje, como é? Os "estragos" da Idade do Betão infelizmente não se fazem só sentir na construção de casas, também na construção de diques, açudes e valas para encaminhar a água. Tudo isto é construído com cálculos matemáticos elaboradíssimos, mas sempre com valores máximos admissíveis. Tudo o que vier para além disso não é calculado.
Foi o que aconteceu na madrugada do dia 18. Choveu muito, e quem não estava preparado sofreu as consequências. O pior é que ainda por cima por cá esquece-se rápido. Isto foi numa segunda feita e no sábado seguinte o futebol tinha que continuar a jogar-se nos estádios, as passereles e as discotecas tinham que estar um brinco e cheias de gente que bebe para esquecer e as revistas da treta (côr de rosa e afins) tinham que continuar a ser vendidas e lidas ( como se a homossexualidade do Castelo Branco interessasse para alguma coisa).
Percebem o que quero dizer?
Ficam algumas imagens das cheias no centro da Cidade de Loures:
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